15 janeiro 2010

O Lobo e a Tempestade

Era uma noite calma. Calma como as outras que vieram antes dessa. Havia apenas uma brisa suave e fresca que acariciava a floresta depois de um dia quente de verão, e o som dos animais noturnos que festejavam suas caças e seguiam em cantos de sedução.

Mas, como já foi antes e que de novo será, não há história que não haja fim e fim que não seja o limiar de um novo começo. O lobo, assim como sente o cheiro de sua caça de longe, sentiu um cheiro diferente no ar. Um cheiro que já havia sentido antes e que já por deveras esperava a muito que acontecesse novamente. Sentiu em sua pele todos os seus pelos arrepiarem e um calafrio que atravessava sua carcaça como uma faca fria e afiada.

O lobo sentiu-se aflito e temeroso do futuro incerto que tocaiava a si e sua matilha. Sedento do sangue novo que o esperava, levantou sua cabeça para a lua e uivou. Uivou tão alto quanto poderia e tão alto como nunca havia uivado antes. A lua que antes era cheia, clara e majestosa, intercalava agora seu brilho com as nuvens que obscureciam a noite ao passar. Seu coração acelerava e ele não mais podia segurar sua boca fechada. Respiração fumegante e o coração saltando pela sua língua, que não o deixava descansar.

Era um medo, medo do que vinha, mas ansiedade por não poder esperar mais. Havia esperado toda a sua vida por esse momento e não havia como escapar. Já estava envolvido demais em seu passado e sabia que não podia deixar sentir que era seu destino, seu futuro.

Os relâmpagos já chamuscavam o horizonte e os trovões anunciavam a tempestade que viria. Mas não era uma tempestade normal, como outras que haviam passado e ido. Essa era diferente, mesmo que em sua forma ela se parecesse com as outras, ela nem se quer era uma tempestade. E o lobo sabia disso. Ele sabia disso ao sentir os seus ossos congelarem, ao sentir as suas pernas amolecerem, ao sentir o seu chão não mais existir.

Mas o lobo sabia que o que viria era inevitável, era esperado, era e deveria ser. Ele esperava por isso, ele ansiava por isso, ele temia, mas queria isso. Assim como a fome o impelia a caçar, agora ele estava pronto para o que viria. Ele havia se preparado, ele estava ciente, ele não tinha sido ingênuo.

O que era não mais seria, e o que viria mudaria todo o seu mundo como ele havia conhecido, e ele sabia disso. O lobo fechou seus olhos, respirou fundo e baixou sua cabeça. Pegou um momento para si, para esvaziar todos os pensamentos que o assombravam. Foram minutos de tensão que pouco a pouco se transformaram em um breve e tranquilo momento. Os barulhos dos trovões haviam sumido e os animais noturnos não mais praguejavam. O lobo havia aceitado seu fado. Levantou a cabeça e olhou para frente com seus olhos de predador, mostrou suas prezas, rosnou em alto som e deu um salto em explosão para sua frente, correndo cada vez mais rápido, correndo em direção ao seu destino.