de que as cores que eu via
não eram as mesmas que você.
Quem dera ser tão simples
interpretar os dizeres de um sábio.
Já em minha singela infância
perduravam pensamentos sombrios
que dia e noite me atormentavam.
Eu sempre soube que era diferente
e que as cores que eu via
não se afiguravam, nem de longe,
às mesmas que você podia perceber.
Entretanto de tantos e tantos,
ainda que eu via o mundo
como algo disforme e raso,
não é que eu não o apreciasse
tanto quanto você.
Ainda que minhas memórias
fossem incoerentes e perdidas
em um vão espaço de ilusão,
não significava, em momento algum,
que eu não pudesse construir
meu próprio vórtice temporal.
Podes me dizer, meu pai,
sem remorsos e sem ressentimentos,
que para você eu nunca fui o mais esperto
dos filhos que tu colocastes neste mundo.
Mas não sou apenas resultado genético de
milhares de eras da dita seleção natural
e que pertence intrinsecamente
à prole e ao legado dessa esfera.
É simplesmente um disparate copioso
você, em sua sumptuosa postura
no pedestal da qual te qualificastes,
julgar que algum dia sequer
eu cheguei a planear minhas idéias
assim como você constrói as suas.
Haja quem me dê asas para voar
e me abasteça de ar para respirar.
Haja quem me dê bom vinho para beber
e que em minha embriagues eu possa sonhar.
Não me julgues de forma tão insípida e estúpida
como vens me julgando até agora.
Isso só condiz com uma ignorância pedante
provinda das fontes da qual bebestes.
Deixe-me voar, porque eu preciso voar para viver,
deixe-me sonhar, pois eu preciso sonhar para ser,
deixe-me ter as minhas próprias fundamentações,
deixe-me ter minhas próprias memórias,
deixe-me libertar a mim de meu próprio corpo,
deixe-me libertar a minha mente das correntes de ferro,
deixe-me voar, pois eu quero voar. Eu preciso...
E por fim, não me faça gritar.
Noctis Lupus – 15/05/2009.
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