28 fevereiro 2016

O Lobo e a Longa Jornada

Quebrado em toda a sua angústia, suas dúvidas e sua interna luta, ele vacilou por um tempo. Pensou em desistir, em ficar. O comodismo e o saudosismo por um tempo que não mais voltaria o fez querer ficar, mas seria um erro mortal.

Alguns companheiros da matilha se aproximaram e latiram para ele, mas ele estava deitado, sem reação, apenas com seu olhar profundo. O mais pequeno dentre eles agarrou os pelos da nuca do lobo com a boca, tentou puxá-lo. Foi um ato breve, e fraco, pois o pequeno ainda não tinha a força de um guerreiro. Contudo, conseguiu chamar a atenção. O lobo olhou para os olhos do pequeno, vermelho em fogo e na fome de viver, ele se viu neles,  em sua mais tenra idade e mesmo agora.

Por mais perdido que ele estivesse por um instante, não deixaria de perceber que ele também havia feito sua matilha insegura. Eles ficariam por ele, ele percebeu. Eles morreriam por ele no frio, na fome e na infelicidade. Percebeu que a matilha não o deixaria para trás.

Ele ergueu sua cabeça e olhou para os que o esperavam, suspirou e levantou-se. Não, ele não queria morrer, não queria a solidão. Buscou em seus mais intrínsecos instintos e sabia que havia apenas uma escolha óbvia. Velho? Nem tanto. Fraco? Talvez tenha se tornado um pouco pelos anos de fartura que haviam passado. Sua pata quebrada? Apenas uma medalha de suas batalhas.

Ele caminhou para junto do resto do bando que se preparava para partir. Houve uma breve euforia com a mistura de latidos e uivos. Ele sentiu seu sangue ferver com a sinfonia da alcateia. Não havia mais volta, a longa jornada havia começado.

O caminho era para o norte e eles estavam de partida...


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